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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Milionários são substituídos por profissionais de alta classe média no mercado de arte

O estereótipo do milionário que gasta fortunas num simples rabisco faliu. Não só o dinheiro trocou de mãos no Brasil. O perfil dos colecionadores de arte também mudou. Se, antes, eles eram industriais ou magnatas da construção civil, hoje são professores, publicitários, advogados e prósperos executivos da área financeira. Todos construíram um patrimônio considerável em obras de arte, compradas muitas vezes a preço de ocasião ou em suaves prestações mensais. Sintonizados com o mercado, eles freqüentam galerias, visitam museus e, principalmente, são amigos de artistas emergentes. Maduros, na faixa entre 40 e 50 anos, os novos colecionadores estão ajudando a definir o quadro da arte contemporânea brasileira, que já há algum tempo faz barulho em mostras internacionais como a Documenta de Kassel e a Bienal de Veneza.
Roberto Setton/ÉPOCA
APRENDIZ
O colecionador Antonio Luís Souza de Assis segue a arte de sua geração
O fenômeno não se restringe ao Brasil. Nos Estados Unidos, novos colecionadores multiplicaram por dez o patrimônio. Há, portanto, uma esperança para quem só pensa em ficar rico ganhando na loteria. Um exemplo brasileiro de quem se deu bem é o economista e empresário João Carlos Figueiredo Ferraz, apesar de não ter perseguido essa meta quando começou sua coleção. Apenas por prazer, reuniu em seu acervo um time com três vetores da arte contemporânea brasileira: Mira Schendel, Tunga e Cildo Meirelles. E só ganhou com eles. Em 1986, quando sua coleção ocupava apenas as paredes da casa, pagou US$ 4 mil por um 'sarrafo' da derradeira exposição de Mira - uma tela branca com um sarrafo negro pertencente a uma exclusiva série de oito exemplares. Preço atual da obra no mercado: US$ 250 mil. Em dólar, nenhuma outra aplicação financeira rendeu tanto no período.

Exemplos desse tipo são menos raros do que se imagina, mas a perspectiva de valorização rápida não move os novos colecionadores, até porque a maioria faz aplicações modestas. Administradora de empresas, a paulistana Maria Luiza Nunes Rodrigues resolveu juntar forças com o amigo Antonio Luís Souza de Assis e formar uma coleção. Ambos beirando os 50 anos, começaram comprando gravuras há menos de dez anos e já acumulam 200 obras,
sendo a mais recente uma tela do paulista Paulo Pasta, considerado pelos críticos o melhor de sua geração. Pasta era o sonho de consumo da dupla, mas o preço de suas telas (US$ 3 mil o metro) pesou na hora de decidir a aquisição. 'Acabamos comprando um quadro pequeno na última exposição', conta Maria Luiza. Ainda assim, em parcelas. A galerista Nara Roesler não se importa. 'Meus melhores clientes são profissionais liberais que apostam nos contemporâneos', revela. 'Eles estão criando um mercado ao legitimar a produção de emergentes', completa Pasta, representado nas principais coleções, entre elas a de Figueiredo Ferraz e a do executivo do mercado financeiro José Olympio Pereira.
Este último, da mesma geração de Pasta, é dono de uma das melhores coleções de contemporâneos. Começou há dez anos e não se arrepende por ter arriscado em obras 'difíceis', como a do baiano Marepe. Crítico do consumismo, Marepe é uma espécie de remanescente da arte povera, termo italiano que define obras feitas de materiais pobres. 'Comprar Di Cavalcanti, Tarsila ou Guignard é de bom gosto, mas exige pouco risco', argumenta Olympio, marido de Andrea Pereira, coordenadora do Núcleo de Arte Contemporânea do MAM de São Paulo. Formada há três anos, a associação reúne mais de 100 entusiastas, entre veteranos e neófitos, promovendo visitas a ateliês, debates e viagens às principais mostras internacionais. 'Queremos incentivar a criação de coleções e mostrar que o mercado é acessível a todos', diz Andrea.
Acessível, mas não muito. Os artistas emergentes ainda representam o caminho mais suave para organizar uma coleção em comparação aos chamados modernos históricos (Tarsila e companhia). O novo colecionador Antonio Luís Souza de Assis inveja a coleção de construtivistas do veterano Adolpho Leirner, mas não tem capital para tanto. Teria de desembolsar mais de US$ 100 mil por uma única obra dessa coleção, que reúne a arte dos concretos nos anos 50 e 60. Naqueles primeiros anos de Bienal, em que predominava a arte acadêmica no Brasil, as obras construtivistas eram vendidas a preço de banana. O colecionador, ex-industrial, lembra que a família deu boas risadas quando trouxe para casa os primeiros desenhos de Mira Schendel. 'Diziam que eu tinha comprado um monte de risquinhos', diverte-se. Hoje, um bom desenho da artista não custa menos de US$ 6 mil.
Parece natural que os olhos dos investidores brilhem diante da evolução dos preços. 'Nunca foi tão enfática a questão do retorno financeiro rápido', observa o marchand Peter Cohn, da Dan Galeria, em São Paulo. A mudança do perfil do colecionador impregnou a arte desse espírito, lamenta. 'Mas sempre existem os desbravadores, aqueles que assumem o papel de coadjuvantes da história dos artistas emergentes, como os corajosos que compraram a vanguarda nos anos 50', diz Cohn, também dono de uma grande coleção. Um dos ousados que apostam no talento dos novos é o professor universitário Miguel Chaia. Ele tem em seu acervo obras de Rosana Paulino e Sandra Cinto, dois novos valores revelados nos anos 90, ao lado da consagrada Tomie Ohtake, sua primeira aquisição, em 1975. Não tinha, então, cacife para comprar. Vivia do salário como professor, mas a dona da galeria Grifo intercedeu e a artista, comovida, concordou em parcelar o pagamento em dez prestações. 'Ficamos amigos e posso dizer que minha coleção só existe graças à generosidade dos artistas', admite Chaia, que não troca de carro há anos e só vende obras do acervo em caso de doença na família. Vive emprestando-as para exposições em museus. Esta é outra questão - ética - que nasceu com a nova mentalidade do colecionismo brasileiro. O novo colecionador tem consciência do caráter público de seu acervo e não o esconde. Prefere ocultar seu nome para preservar sua segurança. Ricard Akagawa é o exemplo mais radical de silêncio colecionista.

Otavio Dias/ÉPOCA
MÃO DUPLA
O galerista Peter Cohn também é colecionador
Muitos dos novos colecionadores não enfrentam as dificuldades financeiras que Chaia teve para montar o acervo. Alguns são banqueiros, como Roger Wright e Milu Vilela. Há quem conte com a orientação de críticos e curadores na hora de comprar. O crítico brasileiro Paulo Herkenhoff, ex-curador da Bienal de São Paulo, selecionou boa parte das obras da coleção da venezuelana Patricia Cisneros, já exibida no Museu de Arte Moderna de São Paulo. O crítico Tadeu Chiarelli, que dirigiu a instituição, ignora a existência dessa nova figura no mercado, a do curador de coleções particulares, mas os galeristas dizem que esse papel é relevante. 'Acho válido, até pela indisponibilidade que têm os colecionadores mais ricos de visitar todas as exposições', argumenta a galerista Marília Razuk. Sua colega Raquel Arnaud relativiza o papel do curador. 'Os novos colecionadores são tão bem informados que eu recorro a nomes como José Olympio quando quero saber a cotação de um artista.' É preciso dizer ainda que eles são quase concorrentes quando se trata de espaço. O colecionador João Carlos Figueiredo Ferraz, sem mais paredes para pendurar quadros, mantém um galpão do tamanho do Gabinete de Arte de Raquel Arnaud para conservar suas obras. 'Sinto uma falta danada de algumas delas.' Pudera. Transportar uma tela da chamada Geração 80, nunca inferior a 2 metros de comprimento por outro tanto de altura, é mais difícil que comprar uma. Mas vale a pena. Afinal, também, a arte pop sofreu da síndrome de gigantismo. E nenhum colecionador se arrependeu de ter um Andy Warhol em casa. Hoje, uma tela dele não vale menos de US$ 10 milhões.
Fonte: Epoca

Um comentário:

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