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Mil mulheres contra o pecado original

Antônio da Cruz
É uma exposição para lá de rica de informações e superfeminina, a que está na Galeria Jenner Augusto, Sociedade Semear. “1000 MULHERES PELA PAZ AO REDOR DO MUNDO” é uma exposição itinerante da “Associação Mulheres pela Paz”, que ficará em Aracaju entre 29 de agosto e 15 de setembro. Expõe as fotos das mil mulheres indicadas ao Prêmio Nobel, entre elas 52 brasileiras, além de estandartes artísticos também com frases criadas por mulheres lutadoras.
Para compreender o comportamento em relação às condições das mulheres deve-se ir ao âmago da questão. No imaginário coletivo judaico-cristão Eva foi a responsável pelo “pecado original”. À mulher, ao longo dos milênios, é atribuída a culpa pelas desgraças do mundo. É que, Eva, já nascida coadjuvante do homem, segundo o Livro de Gênesis, constante na Bíblia, fez a opção pela “Árvore da ciência ou do conhecimento do bem e do mal” desobedecendo, segundo a visão atual, a um “Deus machista, opressor e onipotente”, que ordenou para ela não provar do fruto daquela árvore. Ela teria outra opção, que seria a “árvore da vida” e a depender desta, viveria eternamente no paraíso sem precisar suar para obter o sustento. Esta, decerto, é uma inserção no livro sagrado da visão da realeza e do clero preguiçosos que viam o trabalho como castigo. Bem, a nobreza e o clero se sentiam íntimos do Criador e justificavam assim, o fato de explorar a todos no seu entorno “sem pregar um prego numa barra de sabão”.
Este inculcamento do pecado original é no ocidente, mas, como explicar que, em países onde as religiões são outras e os costumes bem diferentes, mulheres sofram opressão, em muitos casos ainda pior? No convívio social, por milênios, o conhecimento foi negado às mulheres, que não podiam: frequentar a escola, votar, participar de reuniões entre e nem trabalhar com os homens neste mundo “civilizado”, tornando-as submissas e inteiramente dependentes.
Pode-se concluir que, a matriz religiosa vinda dos semitas (judeus e árabes) explique a moral opressora difundida amplamente; que práticas rudimentares baseadas em superstições e o total desconhecimento científico sobre o corpo humano levem a mutilações de mulheres, na África, por exemplo; a postura sexista pelo mundo todo explique a disputa social; a força física maior do homem explique as agressões físicas; e a impunidade esclareça o porquê da negação e quando conquistados, da violação permanente dos direitos das mulheres. Tudo isto explica para ser compreendido e combatido, mas nada justifica. Se tudo isto lhes são contra, cabem às mulheres utilizarem o caráter, a determinação e o conhecimento para viverem em paz.
Cada indivíduo concebe Deus segundo suas necessidades psicossociais, materiais e o grau de mistificação. O imaginário da maioria dos sacerdotes criou e vigora até hoje um Deus segundo a imagem e semelhança do homem. Ele é misericordioso, mas também é o Deus dos exércitos, logo, impiedoso. A guerra, por isto também, sempre foi a atividade nobre para o homem potente e sedento de vitórias e tesouros para honrar a si e a Deus. Num contexto de guerra quem mais sofre são as mulheres que se tornam viúvas e perdem pais, irmãos e filhos.
Mesmo onde a democracia esteja consolidada as mulheres ainda sofrem simplesmente pela própria condição. Em países onde há ocupação estrangeira ou guerra civil, ditaduras ou religiões ortodoxas e intolerantes, a situação delas é extremamente penosa. A guerra, infelizmente, muitas vezes se instala no próprio lar, por um marido tresloucado. A paz deve se dar num contexto de civilidade, sendo esta, sinônimo de evolução da espécie humana... A luta pelos direitos mais elementares, como trabalho, habitação, alimentação, segurança, saúde e educação está na ordem do dia destas bravas mulheres. Não há paz onde as diferenças sociais e econômicas sejam gritantes e os direitos desrespeitados.
A Associação Mulheres pela Paz não discrimina pessoas por preferência político-partidária, de gênero, raça, classe social, idade, crença ou, opção sexual, porém, na Exposição 1000 mulheres..., a interpretação deste mundo e sua idiossincrasia estão nos estandartes pintados, bordados, gravados e nas frases do rodapé das fotografias das mil mulheres batalhadoras que se desvencilharam da culpa de um pecado original inventado pelo macho da espécie para justificar e perpetuar a opressão. Agora, as mulheres contam a própria história para que o mundo absorva o conhecimento oriundo das suas experiências.
“1000 mulheres pela paz ao redor do mundo” Realização: Associação Mulheres pela Paz, Presidente Clara Charf (viúva do guerrilheiro Carlos Marighella) Coordenação: Vera Vieira Patrocínio: Petrobras Apoio: Associação Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo (Suíça), EED (Alemanha), Fundação Avina, Instituto Avon, Vital Voices, NNEDV, e Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal. Parceria local: Governo do Estado de Sergipe/Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SEPM), Sociedade Semear, Revida, Omin e Care.

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