Roberto Setton/ÉPOCA |
APRENDIZ O colecionador Antonio Luís Souza de Assis segue a arte de sua geração |
Exemplos desse tipo são menos raros do que se imagina, mas a perspectiva de valorização rápida não move os novos colecionadores, até porque a maioria faz aplicações modestas. Administradora de empresas, a paulistana Maria Luiza Nunes Rodrigues resolveu juntar forças com o amigo Antonio Luís Souza de Assis e formar uma coleção. Ambos beirando os 50 anos, começaram comprando gravuras há menos de dez anos e já acumulam 200 obras,
sendo a mais recente uma tela do paulista Paulo Pasta, considerado pelos críticos o melhor de sua geração. Pasta era o sonho de consumo da dupla, mas o preço de suas telas (US$ 3 mil o metro) pesou na hora de decidir a aquisição. 'Acabamos comprando um quadro pequeno na última exposição', conta Maria Luiza. Ainda assim, em parcelas. A galerista Nara Roesler não se importa. 'Meus melhores clientes são profissionais liberais que apostam nos contemporâneos', revela. 'Eles estão criando um mercado ao legitimar a produção de emergentes', completa Pasta, representado nas principais coleções, entre elas a de Figueiredo Ferraz e a do executivo do mercado financeiro José Olympio Pereira.
Este último, da mesma geração de Pasta, é dono de uma das melhores coleções de contemporâneos. Começou há dez anos e não se arrepende por ter arriscado em obras 'difíceis', como a do baiano Marepe. Crítico do consumismo, Marepe é uma espécie de remanescente da arte povera, termo italiano que define obras feitas de materiais pobres. 'Comprar Di Cavalcanti, Tarsila ou Guignard é de bom gosto, mas exige pouco risco', argumenta Olympio, marido de Andrea Pereira, coordenadora do Núcleo de Arte Contemporânea do MAM de São Paulo. Formada há três anos, a associação reúne mais de 100 entusiastas, entre veteranos e neófitos, promovendo visitas a ateliês, debates e viagens às principais mostras internacionais. 'Queremos incentivar a criação de coleções e mostrar que o mercado é acessível a todos', diz Andrea.
Acessível, mas não muito. Os artistas emergentes ainda representam o caminho mais suave para organizar uma coleção em comparação aos chamados modernos históricos (Tarsila e companhia). O novo colecionador Antonio Luís Souza de Assis inveja a coleção de construtivistas do veterano Adolpho Leirner, mas não tem capital para tanto. Teria de desembolsar mais de US$ 100 mil por uma única obra dessa coleção, que reúne a arte dos concretos nos anos 50 e 60. Naqueles primeiros anos de Bienal, em que predominava a arte acadêmica no Brasil, as obras construtivistas eram vendidas a preço de banana. O colecionador, ex-industrial, lembra que a família deu boas risadas quando trouxe para casa os primeiros desenhos de Mira Schendel. 'Diziam que eu tinha comprado um monte de risquinhos', diverte-se. Hoje, um bom desenho da artista não custa menos de US$ 6 mil.
Parece natural que os olhos dos investidores brilhem diante da evolução dos preços. 'Nunca foi tão enfática a questão do retorno financeiro rápido', observa o marchand Peter Cohn, da Dan Galeria, em São Paulo. A mudança do perfil do colecionador impregnou a arte desse espírito, lamenta. 'Mas sempre existem os desbravadores, aqueles que assumem o papel de coadjuvantes da história dos artistas emergentes, como os corajosos que compraram a vanguarda nos anos 50', diz Cohn, também dono de uma grande coleção. Um dos ousados que apostam no talento dos novos é o professor universitário Miguel Chaia. Ele tem em seu acervo obras de Rosana Paulino e Sandra Cinto, dois novos valores revelados nos anos 90, ao lado da consagrada Tomie Ohtake, sua primeira aquisição, em 1975. Não tinha, então, cacife para comprar. Vivia do salário como professor, mas a dona da galeria Grifo intercedeu e a artista, comovida, concordou em parcelar o pagamento em dez prestações. 'Ficamos amigos e posso dizer que minha coleção só existe graças à generosidade dos artistas', admite Chaia, que não troca de carro há anos e só vende obras do acervo em caso de doença na família. Vive emprestando-as para exposições em museus. Esta é outra questão - ética - que nasceu com a nova mentalidade do colecionismo brasileiro. O novo colecionador tem consciência do caráter público de seu acervo e não o esconde. Prefere ocultar seu nome para preservar sua segurança. Ricard Akagawa é o exemplo mais radical de silêncio colecionista.
Otavio Dias/ÉPOCA |
MÃO DUPLA O galerista Peter Cohn também é colecionador |
Fonte: Epoca
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